Mais de quatro motoristas por dia perdem o direito de dirigir em Santa Maria

Um total de 791 motoristas teve a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) suspensa ou cassada em Santa Maria no primeiro semestre de 2025. O número representa uma média de mais de quatro penalidades por dia e revela um cenário alarmante, impulsionado principalmente pelo aumento de condutores flagrados dirigindo com a CNH já suspensa e pela duplicação dos cancelamentos (suspensões) por excesso de pontos.

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De acordo com dados do Detran RS, de janeiro a junho deste ano, foram aplicadas 576 suspensões e 215 cassações do direito de dirigir. A cassação é a penalidade mais severa, na qual o motorista perde a carteira por dois anos e precisa refazer todo o processo de habilitação. 

O número de cassações por dirigir suspenso (Art. 263, I) foi de 211 casos no primeiro semestre deste ano. Já a quantidade que o fato se repetiu (Art. 263, II) foi de quatro casos. As duas situações somam 215 condutores que tiveram a CNH cassada em Santa Maria somente nos primeiros seis meses deste ano. 

Para o coordenador de ensino do CFC Via Centro, Oscar Brasil, a maioria das penalidades está ligada à falta de cuidado do condutor em acompanhar se existe alguma multa em aberto em sua habilitação.

 – Muitos não sabiam que estavam suspensos. Eu passo no pardal a 50 km/h. Se eu passar a 76 km/h, eu já passei de 50% da máxima. Isso, em uma madrugada, passar 76 km/h é comum. A pessoa passa a 80 km/h e não vê problema nenhum, ninguém nem dá bola. Então, eu já estou suspenso, fui comunicado, não vi o meu prontuário (multas em sua CNH) dentro de um ano. Quando eu venho renovar ou pedir a minha definitiva, eu fico sabendo que eu já estou passado. Então, reincidi numa infração que eu já cometi ou mesmo não sabia que estava suspenso.

Outro dado que chama a atenção é o aumento nas suspensões por pontuação. A estatística mais do que dobrou: passando de 102 casos em 2024 para 233 neste ano. Entre as infrações específicas que mais levaram à suspensão direta, o excesso de velocidade acima de 50% do limite permitido (Art. 218, III) lidera, com 138 registros, seguido pela recusa em fazer o teste do bafômetro (Art. 165-A), com 98 casos.

Cuidado nas multas

A maioria das penalidades está ligada à falta de cuidado do condutor em acompanhar seu próprio prontuário, ou seja, de conferir se há multas registradas em sua CNH segundo Oscar. 

– A grande quantidade de suspensões vem da velocidade, e 80% dessas infrações são de fiscalização eletrônica. Não tem abordagem, não é um agente de trânsito que está na rua. Hoje em dia, a multa não vem mais pelo correio, ela vai para o teu aplicativo. Se tu não abre o aplicativo, pode estar suspenso ou cassado e não sabe – explica Oscar.

Os 211 condutores que tiveram a CNH cassada por dirigir suspensos provavelmente não sabiam de sua condição irregular. O mesmo ocorre com motoristas em período de permissão, que formam a maior parte dos atendimentos para cassação no CFC.

– O pessoal tem carro no seu nome, alguém vai lá, toma uma multa, e o proprietário só vai ficar sabendo quando vier no CFC pedir sua definitiva e descobrir que já está cassado – detalha.

Um problema de saúde pública

Segundo o professor e engenheiro civil da UFSM, Carlos José Antônio Kümmel Félix, o foco na fiscalização dessas condutas é justificado pela ciência.

– Cada aumento de 1% na velocidade média eleva em 4% o risco de morte em sinistros. Controlar a velocidade e respeitar o semáforo não é burocracia: é a forma mais efetiva de salvar vidas no ambiente urbano – afirma o especialista.

Para ele, a prevenção exige uma combinação de educação, engenharia de tráfego e fiscalização transparente, que deve ser vista como uma ferramenta para proteger vidas, não como uma "indústria de multas".

Como se proteger

Diante do cenário, Oscar reforça a importância de medidas preventivas simples que podem evitar a perda da CNH.

– Se tu tiver o costume de, pelo menos uma vez por mês, abrir o aplicativo da CNH digital e olhar o teu prontuário, tu vai ter tempo hábil para indicar o condutor ou se defender. É preciso também se certificar de quem está dirigindo o teu veículo e fazer a comunicação de venda formal no CRVA – orienta.